Transbordamento, desabamento, reconstrução: Um texto autoral sobre as Intervenções em Campo em Muçum/RS

As psicólogas do Núcleo de Atenção Psicológica em Emergências da Luspe (NAPE) estiveram atuando em Muçum nesta última semana, prestando atendimentos às pessoas e famílias afetadas pelos desastres naturais que vêm acontecendo no Sul do país, através do Aconselhamento Psicológico de Emergência.

Compartilhamos com grande admiração o texto escrito pela psicóloga Clareana Saragiotto, credenciada da Luspe e membro do NAPE.

Sempre gostei da metáfora de sermos rio. Rio que flue, que transcorre, que muda as margens, que atravessa caminhos e deságua no mar, esse coletivão de gente chamado humanidade.

Mas hoje minhas águas internas foram remexidas e movimentadas com outro impacto de ser e de sentir o rio. Água que ameaça porque vem dos céus e da terra, inunda a gente por todos os lados, transborda qualquer borda de credulidade. Transpassa a margem do possível e previsível.

O rio subiu alturas inimagináveis e levou muito mesmo. Levou casas. Corpos já mortos do cemitério. Corpos presos em suas casas – ilhados porque a água não permitia sair. Animais. Arbustos. Flores.

O que não levou, deixou torto, lamacendo, derrubado.

Incredulidade.
Absurdidade.
Irreversibilidade.

Mas muita muita muita humanidade.
Pessoas vindas de tudo que é canto.
Rodos. Pás. Vassouras. No canto de reerguer vigas, colunas, paredes e replantar flores.

Gentes escutando na calçada, nos corredores, na beira da cama, no pé do morro, em qualquer esquina. Olho no olho, palavras brotando ao mínimo movimento de abertura para a diálogo. Silêncios que diziam tanto. Palavras que diziam muito mais, mesmo sendo ainda resumo e síntese da síntese.

E o rio passou a fluir de dentro pra fora, coração com coração, no sentido do mar de amar.

A lama então se misturava a cada mão humana dedicada a reconstrução. Lágrimas de dor se misturavam a pingos de suor de resiliência.

Mãos dadas, ombros com ombros.
Amor-líquido vertendo entre escombros.

Feitio de pontes conectando terrenos frágeis suportando tanta água que rios pareciam mares.

Mar de gente na união da dor. E é mesmo, na dor a gente cresce muito. O mar de amar cresceu dentro de nós. O rio de cada gente começa a transpor as barreiras de choque, diluir-se nas emoções do luto. E ainda esperamos mais águas a desaguar. Pra limpar a dor da injustiça, da culpa, do medo. Pra sustentar o mar da esperança, da fé e da continuidade da vida, fluindo com essas memórias inesquecíveis que jamais se apagarão do chão por onde correram esses fluidos de destruição.

– Clareana Sara
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A Prefeitura de Caxias do Sul, por meio da Secretaria de Segurança Pública e Proteção Social (SMSPPS), Defesa Civil e Guarda Municipal, e o Corpo de Bombeiros estão recebendo donativos para serem entregues aos atingidos pelas fortes chuvas dos últimos dias no Estado.

As doações devem ser feitas na sede do 5º Batalhão de Bombeiros Militar (Rua Vinte de Setembro, 2533 – Centro). Neste momento, são necessários: alimentos não perecíveis, água potável, material de limpeza e higiene.

Segundo o secretário de Segurança Pública e Proteção Social, este é um importante ponto de arrecadação de donativos e de fácil acesso a todos. “Temos a certeza da adesão da população nessa parceria com os Bombeiros em prol dos atingidos pelas chuvas, que neste momento muito necessitam de auxílio”, disse Paulo Roberto Rosa da Silva.

Informações e solicitações podem ser feitas com a Defesa Civil local, pelo fone (54) 98404-0778, ou no Batalhão de Bombeiros pelo fone (54) 3223-6555.

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