Quem somos nós

''O cuidado é expresso como nosso compromisso de amar quem amamos, de Ser o que amamos e de oferecer o que amamos, porque amar é o que Somos e é também o que nos torna Ser.''
- Ana Reis

No ano de 2000, na cidade de Caxias do Sul/RS, nascia um projeto de intervenção clínica psicológica que chamou-se “Acompanhamento Psicológico às Famílias em Situação de Luto Recente no Setting Funerário”. Projeto desenvolvido pela então, estagiária em Psicologia Clínica, Ana Paula Reis da Costa, da Universidade de Caxias do Sul, supervisionado pela Professora e Mestra Siloé Pereira e desenvolvido na Capela Funerária Cristo Redentor – matriz Caxias do Sul.

O acompanhamento psicológico acontecia sob forma de plantão psicológico dentro do espaço da funerária, desde o momento da contratação do serviço funerário pelas famílias, podendo estender-se até o sepultamento. O projeto tinha o apelido de C.O.P. por dinamizar-se afim de oferecer Continência, acolhimento para os sentimentos e pensamentos da família enlutada acerca da perda; Organização, disponibilizando atenção, informações e orientações em relação ao que poderia ser vivido no processo de luto, bem como, facilitar as negociações no desenvolvimento das práticas relacionadas à constituição dos rituais fúnebres para um acompanhamento singularizado garantindo que o rito pudesse funcionar como um instrumento terapêutico a serviço da elaboração do luto familiar. Disponibilizando também suporte e orientações frente ao luto na infância, adolescência e terceira idade. Ainda, Prevenção, que implica identificar e intervir frente à possíveis fatores de risco potencializando facilitadores para a elaboração do luto familiar. Sendo estes os objetivos gerais, o projeto operacionalizava-se em outros objetivos específicos*¹.

Pioneiro, 2000

Na época, no Brasil, não encontrou-se referência desse tipo de aconselhamento. A receptividade e a repercussão do projeto a partir das famílias atendidas na comunidade caxiense chega à mídia, surpreendendo expectativas. Em junho de 2000 a clientela da empresa cresce em 40%. Importante ressaltar que a busca por atendimento passou a vir principalmente de famílias que perderam jovens membros por morte repentina/violenta. As famílias tinham conhecimento da presença de um profissional da saúde mental na empresa, atendendo gratuitamente.

No segundo ano, a acadêmica de psicologia seguiu na mesma empresa iniciando seu estágio em psicologia organizacional, enquanto acompanhava o projeto de aconselhamento ao luto. Neste ano, então enriquecido com o egresso da estagiária em Psicologia Clínica, Rélim Hahn.

A partir da implantação e operacionalização contínua do projeto, nasce a necessidade de criar, nesta cidade, um espaço específico de cuidados clínicos para o encaminhamento das famílias enlutadas que evidenciavam cuidados em psicoterapia breve focada no luto. Aos poucos, foi-se pensando um espaço de acolhimento e acompanhamento psicológico para famílias enlutadas quando então, 2 anos depois, nascia a LUSPE (Luto, Separação e Perdas) – Clínica Psicológica.

Nessa trajetória, no mesmo ano de 2000 a convite da Universidade de Caxias do Sul, o projeto recebeu espaço em congressos de psicologia no Brasil, de modo especial, em Brasília, conhecendo a Mestra Gabriela Casellato, do Instituto 4 Estações de São Paulo. Onde, a partir de então, o projeto de aconselhamento ao luto com suporte teórico e instrumental do Instituto 4 Estações tornou-se consistente, ampliou-se para as dimensões comunitárias, clínicas e organizacionais. Cuidados que se desenvolvem atualmente com o auxílio de profissionais que na cidade de Caxias do Sul e outras desejavam conhecer, aprofundar e atuar no contexto de cuidado às famílias enlutadas.

Ao final do ano de 2002 o CRPRS convida a autora do projeto, Ana Reis, para uma matéria que circulou no Rio Grande do Sul sobre a intervenção fora dos consultórios. Na época, o Grupo Funerário onde o projeto acontecia, por ter filiais em outras cidades, abre espaço para estágios em psicologia. Estudantes e profissionais da área entram em contato com empresa funerária com interesse de realizar o estágio neste contexto de intervenção. Quando então, surge a demanda de grupos de treinamento em aconselhamento psicológico ao luto.

Assim, nasciam as primeiras turmas do Curso de Formação em Aconselhamento Psicológico ao Luto: Instrumentalização em Luto e Perdas, em Caxias do Sul, desenvolvido anualmente partir de 2002. Hoje, com mais de 80 artigos produzidos pelos alunos, também colegas que vieram a fazer parte da equipe e/ou que desenvolvem trabalhos de luto nas mais diversas instituições comunitárias, empresariais e escolares do município e região.

A LUSPE – Instituto de Psicologia nasceu em uma cidade predominantemente católica. O que caracteriza que a grande maioria das famílias enlutadas cheguem primeiramente a um espaço religioso buscando acolhida e orientações. Ao longo dos anos, muitos encaminhamentos vieram,
portanto, destas comunidades religiosas. Paralelamente se mostrou importante instrumentalizar religiosos para o aconselhamento ao luto, criando espaços comunitários de suporte e apoio psicológico. Na escuta desta demanda, com a passagem dos anos em trabalho interdisciplinar entre a Psicologia e a Teologia, a LUSPE – Instituto tornou-se também um Centro Pastoral Urbano focado no acompanhamento ao luto. Atualmente, trabalhando com grupos de estudos e suporte também aos religiosos.

Atualmente, o Instituto LUSPE é uma rede de pessoas que buscam continuamente aprimorar-se no campo de intervenção relacionado a transições psico-sócio-culturais do ciclo vital, perdas e luto. Entre grupos de apoio, acompanhamento em aconselhamento e psicoterapia focadas no luto, palestras, consultoria e atenção, intervenção em emergências psicológicas, suporte a grupos religiosos. A LUSPE enquanto rede já acolheu e orientou mais de 15.000 famílias. É local de estágio das Universidades locais e oferece suporte e assessoria a grupos de apoio em diversas cidades no Rio Grande do Sul.

*¹ ver: Livro Luto na Infância: Intervenções psicológicas em diferentes contextos; Mazorra e Tinoco, p. 127.